
Trabalho documental sobre duas viagens que fiz a bordo do Íris do Mar, um barco dos Açores que pesca espécies de profundidade. Fiz uma primeira viagem da Póvoa de Varzim até Ponta Delgada em 2018 e uma segunda ao largo dos Açores em finais de Abril deste ano.
O livro conta com um texto do Abel Coentrão e um trabalho fotográfico documental meu assim como alguma informação sobre as espécies capturadas, as técnicas de pesca e o próprio barco.
Este projeto tem como tema principal as duas viagens que fiz a bordo do Íris do Mar, um barco de Ponta Delgada (Açores). A primeira viagem aconteceu em Junho de 2018 e teve a duração de quatro dias, entre o porto da Póvoa de Varzim e o porto de Ponta Delgada. A segunda viagem aconteceu quase um ano depois entre o final de Abril e o início de Maio de 2019 e teve a duração de dez dias com origem e destino no porto de Ponta Delgada. Enquanto a primeira foi muito pouco convencional… durante quatro dias não se pescou nem trabalhou e houve espaço para relaxar e contemplar, servindo o propósito original de devolver o barco ao seu porto de origem, a segunda foi uma viagem naturalmente dedicada à pesca e em que o trabalho foi constante e ocupou tudo e todos.
O projeto é composto por uma exposição de fotografia que inclui a exibição, em formato de instalação permanente, de um filme que documenta o ambiente a bordo do Íris do Mar durante a segunda viagem e um livro de fotografia documental.
O livro é, acima de tudo, sobre o mar, um livro de foto- grafia documental que aborda o mar como espaço para a exploração, a descoberta e a transformação pessoal e finalmente como um lugar para a interação humana a bordo de um barco, um pedaço de espaço flutuante, um lugar sem lugar, que existe por si só, que está fechado sobre si próprio, mas que ao mesmo tempo é aban- donado à infinitude do mar, ao longo de duas viagens através do Oceano Atlântico.
A primeira viagem teve para mim uma qualidade meditativa, talvez pelo facto da meditação e a água encontrarem-se indissoluvelmente ligadas. Quando não estava a fotografar ou a conversar com um dos tripulantes, passava o tempo no convés superior a ler e a observar o mar. Refletia na qualidade desta experiên- cia que estranhamente me era familiar mas ao mesmo tempo rara, algo semelhante a uma comunhão com a natureza e um abandono do eu numa imensidão azul. Foi uma viagem calma sem grandes preocupações ou atribulações. O objetivo era levar o barco até Ponta Del- gada e foi exatamente isso que fizemos. Não se pescou nem trabalhou, para além de uns pequenos trabalhos de manutenção que ficaram por terminar durante a estadia do Íris do Mar na Póvoa de Varzim.
A segunda viagem, foi muito diferente da anterior.
O trabalho não parava durante o dia e quando era necessário continuava pela noite dentro. Mesmo assim o ambiente era descontraído e no geral bem-disposto. Todos sabiam o que fazer e quando o fazer. Para mim, mais do que o trabalho, foi a descoberta de um mar ainda abundante de peixe, alguns de um tamanho que eu nunca tinha visto, e o testemunhar do esforço de homens que vivem o mar com uma naturalidade de quem nele sempre viveu. A abraçar tudo isto, a história de um pai e de um filho e o amor de ambos por um barco e pelo mar.

Porque no mar não só nos encontramos a nós próprios como também encontramos outras pessoas a encontrarem-se a elas próprias e penso que é essa forma de estar, partilhada a bordo de um barco, no meio do oceano, que faz com que esta experiência signifique o que significa para mim e para muitos outros.
O mar é um local de transformação, tudo o que nele é imerso muda de natureza, inclusive as pessoas.